ROTEIRO 3
DEUS
MATERIALISMO E PANTEÍSMO
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Conceituar: materialismo e Panteísmo
Traçar um esboço histórico
das idéias materialistas
estabelecer a relação
existente entre panteísmo e materialismo
IDÉIAS PRINCIPAIS
Materialismo é a "doutrina
segundo a qual toda a realidade das coisas se reduz à matéria
e a suas modificações." (11)
Panteísmo "Sistema que nega
que Deus e o universo sejam realmente distintos. (...)" (12)
O materialismo foi criado pelo fundador
da filosofia grega , Tales de Mileto, tendo, ainda, na Antigüidade,
as personalidades de Anaximandro, Anaxímenes, Leucipo, Demócrito
de Adera, Epicuro, entre outros, como adeptos e seguidores.
A escola Aristotélica destaca-se
na Idade Média - a qual tenta conciliar O materialismo com a teologia
juntamente com as idéias de Galileu Galilei.
Nos tempos modernos, pessoas como
Francis Bacon, John Locke, Descartes, La Mettrie, Helvetius, Karl Marx,
e outros, se sobressaem dos de mais. (2,.3, 4, 5 e 6)
O Panteísmo não está
muito distante do materialismo porque, embora vendo em Deus um Ser supremo,
não ë , no entanto, um ser distinto, mas a reunião de
todas as forças existentes.
FONTES DE CONSULTA PROGRAMA
BÁSICAS
01 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
Trad. de Guillon Ribeiro. 57. ed. Rio de Janeiro, FEB, 1983, perg. 16.
p. 56.
COMPLEMENTARES
02 - ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional.
São Paulo, Enciclopédia Britânica do Brasil, 1977,
Materialismo, item 3, v. 14, p.7329.
03 - Op. cit., item 4, p. 7329.
04 - Op. cit., item 5 , p 7329
05 - Op. cit., item 6 , p 7329
06 - Op. cit., item 9 , p 7329
07 - Op. cit., item 15.1 p. 7330
08 - FLAMMARION, Camille M Deus. In.
Deus na Natureza. Trad. de M. Quintão. 4. ed. Rio de Janeiro, FEB,
1979, p. 402 - 404
09 - Op. cit., p. 406 - 407
10 - JOLIVET, Régis . Vocabulário
de Filosofia . Trad. de .Geraldo Dantas Barreto. Rio De Janeiro,
Agir, 1975. P. 139.
11 - Op. cit., p. 140
12 - Op. cit., p. 165
MATERIALISMO E PANTEÍSMO
Apesar de todas as razões que
levam convictamente à crença de que Deus existe, como causa
transcendente necessária do Universo, com os atributos de suprema
inteligência, onipotência, bondade e justiça perfeitas,
e infinito em todas as suas perfeições, há homens,
e sempre os houve, que negam a Divina existência. O seu ateísmo
disfarçado ou sincero, mas que e sempre conseqüência
da arrogância, da presunção e do orgulho, leva-os a
negar a existência de todo Espírito no Universo, tanto o Espírito
Divino como o que em si mesmo existe e é a sede da própria
inteligência e da consciência de cada um; isto é, negam
a existência da alma humana como individualidade independente da
matéria corporal e a ela sobrevivente, considerando-a a penas como
resultante da organização cerebral altamente evoluída
do "Homo Sapiens". São ateus e materialistas, profitentes do mais
radical materialismo.
Materialismo e a doutrina filosófica
segundo a qual não existe essencialmente no Universo coisa alguma
além da matéria, quer como causa, quer como efeito. Implica
um sistema dos mundos em que o fundamento único é a matéria,
incriada e eterna, isto é, existente por si mesma, necessária
e suficientemente, sem interferência alguma de Deus. Os que a professam
são filósofos, quer dizer, refletem sobre os conhecimentos
adquiridos pelas experiências objetivas, as realidades visíveis
e palpáveis, suscetíveis de ser atingidas pela observação
direta e a experimentação, sobre os movimentos universais
que animam todas as coisas ; já chegaram ate as realidades invisíveis
e impalpáveis como os átomos, as radiações
energéticas, as vibrações e as ondas que se propagam
através do Cosmos, mas nada concebem para tudo isso senão
um substrato material submetido a leis cegas, não emanadas de uma
inteligência diretora e criadora. É muito antiga essa concepção,
vem desde os primeiros filósofos gregos e prossegue em toda a antigüidade
greco-romana.
Traçaremos, a seguir, um esboço
das idéias materialistas ao longo da história humana, de
maneira que possamos entender o significado delas.
O materialismo, como doutrina, ensino
ou escola nasce, pratica mente, com Tales de Mileto, na Antiga Grécia,
por. volta do século VI a.C. "O materialismo dos filósofos
jônicos inclui algumas teses que se tornarão características
de todo o materialismo posterior :
1) a filosofia deve explicar os fenômenos
não por meio de mitos religiosos, mas pela Observação
da própria realidade;
2) a matéria, incriada e indestrutível,
é a substância de que todas as coisas se compõem e
à qual todas se reduzem;
3) a geração e a corrupção
das coisas obedecem a uma necessidade não sobrenatural, mas. natural,
não ao destino, , mas às leis físicas;
4) a matéria não é
estática, mas se acha em constante movimento, em permanente metamorfose;
5) a experiência sensível
é a origem do conhecimento
6) a alma faz parte da natureza e
obedece às mesmas leis que regem o seu movimento." (02)
"Para Tales, a substância primordial
é a água, para Anaxímenes o ar, e para Anaximandro
a matéria indeterminada. Todos os fenômenos da natureza consistem
em transformações do mesmo princípio material, independentemente
de qualquer interferência divina (...). O pensamento consiste em
dizer a verdade após ter penetrado a natureza e suas leis, e a sabedoria
consiste em viver de acordo com essas leis.(...) (03)
"Para Anaxágoras, a natureza
se constitui de homeomerias, unidades que contêm os elementos de
todas as coisas em proporções infinitesimais (...) Demócrito,
(...) sustenta que o princípio de todas as coisas são os
átomos. Tudo o que existe ë material, e a mateira que constitui
os átomos é qualitativamente idêntica, determinando
os diferentes fenômenos da natureza em função da diversidade
quantitativa dos átomos (forma, dimensão e ordem). As transformações
que se observam na natureza consistem em associações e dissociações
de átomos." (04)
"A alma humana, feita também
de átomos, está sujeita à decomposição
e a morte. (...) A natureza se explica por si mesma, e os acontecimentos
que hoje se produzem, dizia Demócrito, não têm causa
primeira, pois preexistem de toda a eternidade no tempo infinito, contendo,
sem exceção, tudo o que foi, é e será. (...)"
(05)
Em tese, foram estas as idéias
materialistas reinantes até o século XIII, havendo em contraposição
as escolas espiritualistas - sobretudo a platônica e a neoplatônica
- e aquelas que tentavam conciliar o materialismo com a teologia, como
a escola aristotélica.
No longo período que constituiu
a Idade Média, o materialismo foi sofrendo algumas alterações,
porém sempre rejeitando a idéia de um Criador supremo para
todas as coisas.
Segundo Francis Bacon (15611626),
"(...) As ciências físicas e naturais constituem, a seus 'olhos,
a verdadeira ciência.
Por sua vez Hobbes (15881679) cria
um sistema materialista perfeita mente coerente. Concebendo o mundo a maneira
de Descartes, a geometria como paradigma do pensamento lógico e
a mecânica de Galilei como ideal da ciência da natureza, considera
o mundo um conjunto de corpos materiais, definidos geometricamente, por
sua forma e sua extensão. O homem é um corpo, como os demais,
a alma não existe e os organismos não passam de engrenagem
do mecanismo universal." (06)
Vivendo no período de 16321704,
John Locke nega as idéias inatas e afirma que todas as idéias
humanas têm origem na experiência.
No século XVIII, Julien Offroy
de la Mettrie (17091751), filósofo sensualista, afirma que o prazer
e o amor-próprio são os únicos critérios da
vida moral e, também, que os fenômenos psíquicos resultam
de alterações orgânicas no cérebro e no sistema
nervoso. Outro filosofo da época, considerado o precursor ideológico
da Revolução Francesa, materialista e ateísta intransigente,
defende a tese de que todas as idéias são sensações
provocadas pelos objetos materiais e a personalidade ë produto do
meio e da educação. Esse filósofo chamava-se Cloude
Adrien Helvétius (17151771).
Encerrando o século XVIII,
Paul Henri Dietrich (17231789), francês de origem alemã, considerava
o Cristianismo como contrário à razão e à natureza.
Nega as idéias inatas, a existência da alma e de Deus. Vê
no comportamento religioso um despotismo político. (07)
No século XlX, surge com Karl
Marx (18181883) e Friedrich Engels (1820189S) o chamado materialismo histórico
e dialético. Marxismo é, pois, a doutrina "(...) segundo
a qual as organizações políticas e jurídicas,
os costumes e a religião são estritamente determinados pelas
condições econômicas, pelo estado da indústria
e do comércio, da produção e das vendas." (10)
Só crêem na matéria!
Mas não podem deixar os materialistas de ver a ordem existente no
Universo, entretanto, admitem uma ordem inteligente existindo sem uma causa
inteligente, que a preceda, conceba e a ela presida.
Vejamos o que nos fala Camille Flammarion,
em sua obra "Deus na Natureza":
"(...) De resto, a que se reduz a
negação materialista? Buscando o âmago. das coisas,
percebemos logo que essas negações não podem ser tão
absolutamente negativas quanto o pretendem. O insensato não o será
jamais impunemente e não é tão fácil, quanto
possa parecer, uma convicção profunda no ateísmo.
Na maioria dos casos, o que ocorre é o deslocamento da questão
e nada mais. Em vez de chamar Deus à direção das forças
que regem o mundo, os convencidos de ateísmo deixam de o nomear,
e, em vez de atribuir a um ser inteligente a inteligência dessas
forças, outorgam-na à própria matéria. Removem,
assim, mas não resolvem o problema, pois os fatos continuam irrevogáveis.
Negam a Deus, mas não podem negar a força. Apenas, em lugar
de proclamarem a soberania dessa força, consideram-na escrava da
matéria inerte. (...) Todas as propriedades instintivas ou intelectivas
que os nossos adversários não podem deixar de atribuir à
matéria para explicar a ação desta, sua tendência
progressiva, seu método seletivo; desde a formação
do vegetal humilde à formação de um cérebro
humano, são atributos que eles extraem do Ignoto que nos denominamos
Deus, e que eles homenageiam chamando-lhe matéria; (...) Parece-nos
absurdo integral a crença de que o Espirito pudesse surgir no cérebro
humano e manifestar-se nas leis do Universo, se não existisse de
toda a eternidade. (...)'~ (08)
Não e só o materialismo
que nega Deus e a existência do Espirito humano. Ha ainda a panteísmo..
Para os que professam essa doutrina - entre os quais .avulta a mentalidade
vigorosa de Spinozza
Deus, sendo embora o Ser Supremo,
não é, entretanto, um ser distinto, pois consideram-no resultante
da reunião de todas as forcas, todas as inteligências do Universo.
Sente-se desde logo a inconsistência de uma tal doutrina que, se
verdadeira, derrogaria os mais necessários dos atributos de Deus:
ser eterno, infinito, imaterial, único, onipresente, soberanamente
justo e bom.
"(...) Esta doutrina - comenta Allan
Kardec - faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência,
seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se
a matéria jncessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma estabilidade
teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades
da Humanidade ; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade:
a imutabilidade. Não se podem aliar as propriedades da matéria
à idéia de Deus, sem que ele fique rebaixado ante a nossa
compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que
cheguem a resolver o problema da sua natureza íntima. Não
sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode
deixar de ser e o sistema de que tratamos está em contradição
com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador com a
criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina
fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.
A inteligência de Deus se revela
em suas obras como a de um pintor no seu quadro; mas, as obras de Deus
não são o próprio Deus, como o quadro não é
o pintor que o concebeu e executou. (...)" (01)
Materialismo e panteísmo se
confundem, pois, na mesma negação de Deus como o Ser distinto,
que é a Inteligência Suprema e a Causa Primária do
Universo. "(...) Mas, - escreve Camille Flammarion, na obra citada -, ainda
bem que o ateísmo absoluto só pode ser uma loucura nominal
e o Espírito mais negativista não pode, realmente, atribuir
à matéria senão o que pertence ao Espírito,
criando, assim, um deus matéria, à sua imagem e semelhança.
Assim, temos visto que, desde o panteísmo místico ao mais
rigoroso ateísmo, os erros humanos a respeito da personalidade divina
não puderam, senão, velar, ou desnaturar a revelação
do Universo, sem aniquilá-la. Nosso Deus da Natureza permanece inatacável,
no seio mesmo da Natureza, força, intrínseca e universal,
governando cada átomo, formando organismos e mundos, princípio
e fim das criações que passam, luz incriada a brilhar no
mundo invisível e para a qual, oscilantes, se dirigem as almas,
como a agulha imantada, que não mais repousa enquanto não
se encontra identificada com o plano do polo magnético." (09)